Miguel Salaz
Nov 1, 2020

Nebulosa Marieta

Um clarão vivo acordou a cidade naquela madrugada. Toda a gente à janela pensando o que seria aquela luz invulgar que iluminava as fachadas dos prédios da avenida e o olhar das crianças, incrédulas tal e qual os adultos, ao colo de suas mães. Os cães incapazes de ladrar, surpresos com aquele fenómeno extraordinário. Talvez seja tempestade murmurara um vizinho. Ou uma inspiração divina pensaram os mais religiosos. Uma coisa parecia certa. Aquele clamor, tal explosão de cólera, saía evidentemente das entranhas de Marieta. Era da boceta da puta que uma poeira encarnada emanava, como uma nuvem interestelar. Centenas de milhões de micro-particulas saindo da sua cona, se espalhando pela cidade. Bolinhas vermelhas com piquinhos e com ventosas na ponta, quase invisíveis a olho nú, e os residentes daquela cidade ingénuos, inspirando elas todas. A tempestade iminente entrando em suas vias respiratórias, se alojando em seus pulmões.